terça-feira, 26 de junho de 2007

QUERO - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE


Quero que todos os dias do ano

todos os dias da vida

de meia em meia hora de 5 em 5 minutos

me digas: Eu te amo.

Ouvindo-te dizer: Eu te amo,

creio no momento, que sou amado.

No momento anterior e no seguinte,

como sabê-lo?

Quero que me repitas até a exaustão

que me amas que me amas que me amas.

Do contrário evapora-se a amação

pois ao não dizer: Eu te amo,

desmentes apagas teu amor por mim.

Exijo de ti o perene comunicado.

Não exijo senão isto, isto sempre,

isto cada vez mais.

Quero ser amado por e em tua palavra

nem sei de outra maneira

a não ser esta de reconhecer o dom amoroso,

a perfeita maneira de saber-se amado:

amor na raiz da palavra e na sua emissão,

amor saltando da língua nacional,

amor feito som vibração espacial.

No momento em que não me dizes:

Eu te amo, inexoravelmente sei que deixaste de amar-me,

que nunca me amastes antes.

Se não me disseres urgente repetido

Eu te amoamoamoamoamo,

verdade fulminante que acabas de desentranhar,

eu me precipito no caos,

essa coleção de objetos de não-amor.

Carlos Drummond de Andrade

Nenhum comentário: