sexta-feira, 9 de maio de 2008

Sobre a arte de calar e o poder das palavras.

" O silencio é um momento vivificante de graça,
em que a criatura se cala, mas o espírito fala.
Calar sobre sua própria pessoa, é humildade.
Calar sobre os defeitos dos outros, é caridade.
Calar quando a gente está sofrendo, é heroísmo.
Calar diante do sofrimento alheio, é covardia.
Calar diante da injustiça, é fraqueza.
Calar quando o outro está falando, é delicadeza.
Calar quando o outro espera uma palavra, é omissão.
Calar e não falar palavras inúteis, é penitência.
Calar quando não há necessidade de falar, é prudência.
Calar quando Deus nos fala no coração é silêncio.
Calar, diante do mistério que não entendemos, é sabedoria.”
(Autor Desconhecido)





As palavras têm poder de construir e de destruir.

Para a nossa vida florescer é necessário saber dizer as palavras certas no momento certo.

A falta de sabedoria nesta área resulta pode resultar na perda de amigos, familiares, de oportunidades profissionais e perdas nas várias áreas da nossa vida.

Não é fácil saber o que dizer, onde e quando, até porque a maneira de ser de cada humano é diferente.

As experiências pessoais de cada um, o seu percurso cultural, a sua vivência em família, tudo isso provoca diferenças na maneira de entender uma mesma mensagem.

Muitas vezes querendo ajudar o nosso semelhante sem querer dizemos as palavras erradas acabando por ainda deitar mais abaixo a pessoa que queríamos levantar.

Por isso, e para que possamos aprender a arte de proferir as palavras corretas no momento adequado é importante que treinemos a “arte de calar”.

Não é fácil calar as nossas palavras, principalmente para aqueles que têm um temperamento mais impetuoso ou mais espontâneo, mas como em tudo na vida primeiro há que decidir fazer e depois por em prática e ir corrigindo a rota sempre que se sai um bocadinho do que se traçou.

Ninguém é perfeito e isso deveria fazer de nós mais condescendentes com os nossos erros e com os dos outros, mas isso não impede que nos esforcemos para corrigir os erros e tentar melhorar um pouco mais a cada dia que passa.

Enviaram-me uma mensagem que se debruça sobre o tema “a Arte de Calar” então resolvi compartilhá-la com todos os leitores anônimos que eventualmente passam pelo Suave Sintonia. Aqui deixo uma ótima sugestão de leitura, o livro de Gabriel Perissé - " A Arte de Calar" e meu agradecimento sincero pela sua visita.



A Arte de Calar


É sinal de inteligência e sabedoria falar pouco, falar bem e não falar mal de ninguém.
Contudo, calar-se é ainda mais importante, quando calar-se é dizer tudo.
Há quem se cale por não ter realmente nada para nos dizer, mas há também quem se cale por omissão, quando seria um dever falar, escrever, gritar, colocar a boca no trombone, como se dizia antigamente.

Calar-se na hora certa e pelos motivos certos é uma verdadeira arte cujas regras um pequeno livro do Abade Dinouart quer nos transmitir. Autor francês do século XVIII, suas admoestações para que façamos silêncio ainda hoje são pertinentes.
Sutileza não lhe falta. Ao mesmo tempo que recomenda o silêncio, lembra que há silêncios falsos, aqueles que simulam uma sabedoria que, de fato, inexiste. Nem sempre calar-se significa profundidade de pensamentos. Pelo contrário, é camada de verniz que recobre um vazio sepulcral.

Mas há ainda outros silêncios, e alguns deles diabólicos. Há o silêncio manipulador, o silêncio torturante, o silêncio chantagista, o silêncio rancoroso, o silêncio conivente, o silêncio da zombaria, o silêncio imbecil, o silêncio do desprezo. Há pessoas que matam com seu silêncio. Há silêncios que esmagam a justiça e a bondade, na calada da noite.
Por isso o silêncio rico de significado é ainda mais apreciável e luminoso.
Falo do silêncio que prenuncia novas palavras.
Falo do silêncio que é solidariedade na dor.
Falo do silêncio que soluciona cisões.
Falo do silêncio que pergunta.
Falo do silêncio que perdoa.
Falo do silêncio que ama.


O silêncio mais puro é aquele que guarda a confidência. Este silêncio jamais é excessivo. Não se deve apregoar aos quatro ventos o que foi murmurado na intimidade da amizade e do amor.

O silêncio mais sábio é aquele que fazemos diante dos impertinentes, intolerantes e desbocados. É o silêncio do Cristo inocente diante dos acusadores, o silêncio dos espaços infinitos diante da quase infinita capacidade nossa de falar ou escrever sem razão.

Calar da maneira certa é deixar que uma voz mais profunda seja ouvida. A voz severa, a voz serena, a voz suave e firme da verdade.

O verdadeiro silêncio diz a verdade que não se pode calar.
O verdadeiro silêncio nunca será cedo demais.
Quero ouvir o silêncio que tudo explica.



Gabriel Perissè
A arte de calar, Martins Fontes, 2001, 80 páginas